quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O que é Vocação Profissional?


Vocação profissional é descobrir qual a profissão mais adequada ao perfil de cada indivíduo. Descobrir a vocação profissional de cada um é avaliar em quais profissões ele se encaixa melhor, de acordo com suas preferências, estilo de vida, e etc.
A vocação profissional é analisar em que profissão o indivíduo tem interesse, o que ele gosta de fazer, e o que ele não suporta. Descobrir a vocação de cada pessoa não é uma tarefa fácil, mas tem o objetivo de tornar aquele indivíduo em um futuro profissional realizado com o que faz e satisfeito com o tipo de vida que escolheu para viver.
Nos dias atuais, a descoberta da vocação profissional tem se tornado essencial, uma vez que é necessário direcionar a carreira das pessoas, para não correrem o risco de perderem tempo e dinheiro, se dedicando, fazendo cursos, por algo que eles não tenham interesse.
Para descobrir a vocação profissional de cada indivíduo, existem testes e exames que podem ser feitos, geralmente com a ajuda e suporte de psicólogos, que analisam o perfil de cada um, considerando diversos fatores, como características pessoas, personalidade, reações, objetivos, e etc.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O que é a fé?


A fé católica é coisa absolutamente diversa de uma simples crença

Em artigo nosso anteriormente publicado, falamos do equívoco que é ver a religião como fenômeno exclusivamente sentimental e subjetivo, sem relevância intelectual e sem referência à realidade das coisas. Dizíamos que tal equívoco nasce de dois outros erros: (1) um que faz a religião depender somente da fé, como se não houvesse verdades religiosas que o homem pudesse conhecer à luz de sua razão natural; (2) outro que consiste numa falsa visão da fé, que é confundida com mera crença. Ora, como dissemos naquela oportunidade, esses dois erros são eliminados quando mostramos que: (1) existem verdades religiosas naturalmente acessíveis ao conhecimento humano; (2) a fé católica, como virtude teologal, é coisa diferente de uma simples crença.

E vamos começar desenvolvendo o segundo desses pontos: a fé católica é coisa absolutamente diversa de uma simples crença. É importante frisar isso, porque, hoje em dia, as pessoas parecem já não mais saber o que é fé, acham que ter fé é acreditar em qualquer coisa. Porém, como sublinhou o atual Papa Bento XVI, quando ainda era o Cardeal Ratzinger, responsável pela Congregação da Doutrina da Fé (órgão que assessora o Santo Padre na defesa da fé), na famosa declaração Dominus Iesus: «Deve-se manter firmemente a distinção entre a fé teologal e a crença nas outras religiões» (n. 7 do documento).

Precisamos, portanto, retomar o sentido da fé. Para isso, podemos recorrer ao significado primitivo e etimológico da palavra. Fé (do latim fides) significa a confiança que depositamos na palavra de alguém. Este sentido ainda está bem presente em expressões legais, como "boa-fé" ou "má-fé". Um oficial de justiça, por exemplo, quando atesta algum acontecimento, escreve "certifico e dou fé"; com isso ele quer dizer que é verdade o que ele está atestando e que as pessoas podem confiar no que ele está falando. Dos documentos lavrados em cartório também se diz que têm "fé pública" – é mais uma aplicação do mesmo sentido.

Quando confiamos na palavra de um homem, temos o que se chama "fé humana". A fé humana é um meio de conhecimento, grande parte dos conhecimentos que temos de história, geografia ou de ciências naturais chega a nós por meio da fé humana. São conhecimentos que não podemos verificar por nós mesmos; todavia, nós os aceitamos confiando na palavra dos que nos ensinaram. Por exemplo, só sabemos que a Independência do Brasil foi proclamada em 1822 porque confiamos nos documentos que nos relatam isso e acreditamos no magistério dos historiadores – nenhum de nós já havia nascido àquela época e poderia verificar tal fato por si mesmo.

Como afirmei acima, quando aceitamos como verdade o que nos diz determinado homem, digno de confiança, temos o que se chama fé humana. Porém, quando aceitamos como verdadeira a Palavra revelada de Deus, temos o que se chama "fé divina". É por isso que o Catecismo da Igreja Católica, nos seus parágrafos 142 e 143, define a fé como «a resposta do homem ao Deus que se revela».

Ter fé, portanto, não é acreditar em qualquer coisa; ter fé é aceitar como verdadeira a Palavra revelada de Deus, é aderir voluntariamente às verdades que Deus comunicou à humanidade, sem as aumentar nem as diminuir.

Isso, por si só, já mostra o quão distante está a fé católica de uma simples crença. A fé é um conhecimento, mas uma simples crença não é conhecimento. Uma crença pode ser puro fruto da imaginação, da fantasia e da subjetividade do crente. No entanto, a fé está baseada no fato histórico e objetivo da Revelação. A fé é um conhecimento sobrenatural historicamente transmitido por Deus à humanidade. «Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho» (Hb 1,1-2).

O católico, portanto, não é um crente, mas um fiel, que guarda na inteligência e no coração o conhecimento sobrenatural transmitido aos homens por Deus. Este conhecimento sobrenatural em que consiste a fé está depositado nas duas fontes da Revelação divina, a Sagrada Escritura e a Tradição Apostólica, e nos é transmitido por intermédio do magistério da Igreja. Entretanto, existe um conhecimento natural de Deus que, de certo modo, consiste num preâmbulo da fé e do qual pretendemos falar, com a ajuda do Altíssimo, no próximo artigo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A imaginação


Nenhuma pessoa prudente escolheria um doido como conselheiro para os problemas mais delicados da sua vida. Todos nós qualificaríamos de imprudente e pouco sensato quem se comportasse desse modo. Esta verdade, tão clara e evidente na vida e nos negócios, não o é tanto, pelo menos na prática, na vida interior e no problema da nossa santificação. A imaginação é uma doida – a doida da casa, como a qualificava Santa Teresa, com o seu habitual bom-humor – e, no entanto, a escolhemos, mais ou menos inconscientemente, para conselheira dos problemas mais delicados da nossa alma.

Esta doida que nos distrai com o seu alarido e nos dissipa com a sua agitação; que nos comunica os seus temores e nos perturba com as suas apreensões, que nos sussurra ao ouvido suspeitas infundadas, que nos tiraniza com as suas ambições e nos morde com a sua inveja; esta doida que nos faz abandonar a realidade com sonhos fantasiosos, cheios de euforia ou de pessimismo, e que instila em nós, suavemente, o veneno da sensualidade e do amor-próprio; esta doida – sabemo-lo por experiência – é a grande inimiga da nossa vida interior, é a eterna aliada do mundo, do demônio e da carne.

É ela que perturba a tua vida de oração, que te faz temer a mortificação; é ela que introduz na tua alma a tentação da carne e da soberba, que falseia o teu conhecimento de Deus e te priva do sentido sobrenatural; é ela que te embala no sonho da frivolidade ou te submerge no letargo da tibieza; é ela que extingue o fogo da caridade ou acende o da desconfiança e da discórdia. Doida, como um cavalo fogoso; inquieta, como uma borboleta. Se não a dominas e orientas, nunca serás alma interior e sobrenatural. Se não a dominas, nunca poderás fruir daquela calma serena que é tão necessária para servir a Deus. Se não a refreias, nunca alcançarás aquele realismo que é uma exigência da vida de santidade.

Calma, realismo, serenidade, objetividade: virtudes que nascem onde termina a tirania da imaginação; virtudes que crescem e se fortificam no esforço ascético por dominar e controlar a fantasia. Dizia-te que é grande a tirania da imaginação. Tão grande que chega a alterar as ideias, a falsear as situações da vida, a deformar as pessoas. O Evangelho oferece-nos uma prova muito eloqüente desta tirania. O lago de Genesaré: uma escura noite de tempestade; os Apóstolos têm de remar com a máxima energia, lutando contra um vento forte em sentido contrário. A pequena barca, sacudida pelas ondas, abriga doze homens que se esforçam desesperadamente por resistir à força impetuosa do vento. Jesus retirou-se a um monte vizinho para orar. Na quarta vigília da noite, aproxima-se dos Apóstolos caminhando sobre as águas. E os doze... vendo Jesus, que caminhava sobre as águas, perturbam-se e exclamam: é um fantasma!

Vê: a adorável figura do Mestre, que se aproxima para ficar com eles, para os ajudar, para acalmar a tempestade impondo silêncio às ondas com a sua palavra imperiosa, assume naquelas imaginações o aspecto de um fantasma, que lhes mete medo e os perturba. Quantas vezes este episódio evangélico se repete em nossas vidas! Em quantas ocasiões a nossa alma, vítima da imaginação, se enche de temor e fica perturbada! Brincadeiras da fantasia, fantasmas da imaginação, essas são as cruzes imaginárias que frequentemente nos atormentam, oprimindo-nos com o seu peso. Não exagero se te digo que noventa por cento dos nossos sofrimentos, desses sofrimentos que, com pouco conhecimento da Cruz de Cristo, qualificamos como cruzes, são imaginários, pelo menos aumentados e deformados pela cruel tirania da nossa imaginação. É por isso que nos pesam e nos enfraquecem tanto as nossas cruzes humanas e inventadas.

Se tudo o que nos faz sofrer tanto e nos oprime tão violentamente fosse verdadeiramente a cruz que o Senhor nos manda, a Cruz de Jesus, uma vez que a tivéssemos reconhecido como tal e com fé e amor a tivéssemos aceito, não deveria pesar-nos nem oprimir-nos mais. Porque a Cruz de Jesus, a Santa Cruz, não é fonte de tristeza ou de abatimento, mas de paz e de alegria. Mas se, pelo contrário, carregamos sobre os ombros uma cruz humana e imaginária, uma cruz produzida pela nossa revolta interior contra a verdadeira Cruz, então devemos estar tristes e preocupados. Este peso e esta preocupação podem desaparecer da tua vida, podem deixar de oprimir-te: basta que abras os olhos da fé e que te decidas a cortar as asas à tua imaginação.

Deixa-me que te diga que estas cruzes humanas que te acabrunham com o seu peso não existem na grande realidade da tua vida sobrenatural: existem apenas na tua imaginação. Carregas sobre os ombros um peso tão atroz quão ridículo: um peso que na tua imaginação é uma montanha e na realidade é um grão de areia.

São fantasmas forjados na tua cabeça, fantasmas que a fantasia reveste de cores vivas, atribuindo-lhes mãos largas e temerosas e pernas ágeis e velozes. São fantasmas que agora te perseguem, enchendo de dor e de agitação a tua alma. Um pequeno gesto da tua vida de fé seria suficiente para os fazer desaparecer. Percebes que basta pouco para os eliminar?

Mas, às vezes, admitimos na nossa vida outros fantasmas que vêm de longe: são os temores de males futuros. São temores de coisas ou perigos que hoje não existem e que não sabemos se se verificarão, mas que vemos presentes e atuais na nossa imaginação, convertendo-os em tragédia. Um simples raciocínio sobrenatural seria suficiente para os varrer: se esses perigos não são atuais e esses temores ainda não se verificaram, é óbvio que não dispões da graça de Deus necessária para os vencer e aceitar. Se esses receios vierem a cumprir-se, então não te faltará a graça divina e, com ela e com a tua correspondência, a vitória, a paz. É natural que não tenhas agora a graça de Deus para venceres os obstáculos e aceitares as cruzes que existem apenas na tua imaginação. É preciso construir a vida espiritual com base num realismo sereno e objetivo.

Os fantasmas não são menos perigosos no campo da caridade. Quantas vezes és vítima da imaginação no exercício desta virtude! Quantas suspeitas sem fundamento, radicadas apenas na tua cabeça! Quantas coisas fazes pensar e dizer ao teu próximo, quando ninguém pensou, nem disse, nem fez nada! Estes fantasmas perturbam e minam a vida de relação, a vida de família. Os pequenos contrastes, que se dão necessariamente em todos os círculos de convivência humana, mesmo entre santos – porque não somos anjos –, agigantam-se e deformam-se em consequência da imaginação, e criam estados de ânimo duradouros que nos fazem sofrer muitíssimo. Por coisinhas de nada, por ninharias e pelo jogo da fantasia, cavam-se abismos que dividem as pessoas, que destroem afetos e amizades, porque vão corrompendo a unidade.

A imaginação é ainda a grande aliada da sensualidade e do amor-próprio. Quantos romances te faz viver! Sonhos fantásticos em que és o herói, a personagem que triunfa: fantasmas que afagam a tua ambição, o teu desejo de mandar e de ser admirado, a tua vaidade. Vê quantos obstáculos para a tua santidade. A tua vida de piedade – a oração, a presença de Deus, o abandono nas mãos do Senhor, a alegria forte e sobrenatural –, as muralhas da tua vida interior ameaçadas, minadas pela doida da casa. Que sejas sobrenatural, objetivo. A voz de Jesus põe termo aos temores e à aventura dos doze no lago de Genesaré: Tende confiança. Sou Eu. Não temais.

domingo, 28 de outubro de 2012

DIRECIONE O OLHAR


O que importa na vida é saber para onde olhar.
Se estiver em dificuldades, pensando em desistir
lembre-se de todos os problemas que já superou
Olhe para trás
Se por acaso houver tropeços, se você cair, levante!
Não fique parado
Esqueça o que passou
Olhe em frente
Se o orgulho invadir seu coração,
investigue suas motivações,
olhe para seu interior
antes que o egoísmo o domine.
Enquanto tem um coração sensível,
ajude as pessoas que o cercam,
olhe ao redor
enquanto sobe para alcançar altas posições.
No afã de realizar seus sonhos
cuide se não está pisando em ninguém.
Olhe para baixo!
Em qualquer momento de sua vida
busque a aprovação de Deus
olhe para cima!

sábado, 27 de outubro de 2012

Verdadeiras e falsas cruzes

 

Dor que faz bem e dor que faz mal

Há um fato indiscutível, e é que o sofrimento é nosso companheiro ao longo de todo o caminho da vida. E há um segundo fato, igualmente incontestável: conforme as pessoas - conforme a qualidade da alma das pessoas -, o sofrimento esmaga ou faz crescer, destrói ou amadurece.

Essa ambivalência da dor - que pode edificar ou arrasar - indica às claras que o problema, para qualquer ser humano, não reside no sofrimento que Deus envia ou permite que apareça na nossa vida, mas na atitude com que aceitamos ou rejeitamos essa cruz, que Deus nos propõe abraçar. Como sucedeu junto de Cristo no Calvário, a cruz rejeitada afundou o mau ladrão, e a cruz aceitada com humildade, com fé e com amor, salvou o bom.

Mas, ao lado dessas cruzes enviadas ou permitidas por Deus há outras que nem Deus quer nem nós queremos, mas aparecem. São as "falsas cruzes", que nada trazem de bom. Em que consistem?

Trata-se das "cruzes" que nós mesmos "fabricamos", "inventamos", e que nunca deveriam ter existido. São as que aparecem só como conseqüência da nossa mesquinhez e dos nossos defeitos. A pessoa egoísta, ciumenta, invejosa, teimosa…, sofre muito e faz sofrer os outros. Mas esses sofrimentos não são "cruzes", no sentido cristão da palavra. São apenas a destilação amarga do nosso egoísmo. Com certeza não são a vontade de Deus; pelo contrário, trata-se de pecados mais ou menos graves, que evidentemente Deus não quer, mas nós colocamos como pedras no caminho da vida.

Se fôssemos fazer as contas, veríamos que a maioria desses sofrimentos "fabricados" indevidamente por nós brotam de uma dupla fonte: a fonte do amor-próprio e a fonte do amor pequeno.

O amor-próprio é uma fonte de péssimas cruzes. Como o orgulho nos faz sofrer! Que feridas infeccionadas não provoca! Basta uma lufada de ar - uma pequena desconsideração ou indelicadeza -, e o amor-próprio sente-se atingido como por um punhal. Uma pessoa orgulhosa é incapaz de tolerar sem ficar magoada - sem se meter num calvário de sofrimentos íntimos - a menor humilhação, mesmo a causada involuntariamente. Fica alterada, abatida; grava a mágoa na memória e a vai remoendo lá dentro; cultiva-a na imaginação, aquece-a ao fogo da autocompaixão, vai engrossando-a à força de lhe dar importância, e termina fazendo dela uma tortura insuportável.

Bastava que fosse um pouco mais humilde, que soubesse relevar minúcias, que se esforçasse um pouco por compreender, por desculpar, por oferecer a Deus as pequenas contrariedades, e não teria nem um miligrama dessa cruz ruim, que não é a cruz de Cristo.

Se a pessoa orgulhosa sofre com tormentos fabricados pelo orgulho, que dizer da invejosa? Sempre comparando-se com os outros, sente subirem-lhe ao coração ondas de melancolia, depressões enciumadas, revoltas contra a sorte e até protestos íntimos contra a Providência de Deus. Essa pessoa invejosa, que chora frustrações, foi ela própria a criadora da sua falsa "cruz". Se tivesse um coração mais generoso, vislumbraria, feliz e agradecida - na mesma situação em que só vê infortúnios e injustiças da vida -, dez mil bondades de Deus e motivos de ação de graças, um panorama de miúdas e saborosas alegrias, que em vez de lágrimas ou revolta lhe poriam canções dentro da alma.

Vejamos agora a segunda fonte de cruzes doentias: a do amor pequeno. Já de início, poderíamos dizer que existe um sinal infalível de que o nosso amor é pequeno: o mau humor. Para quem ama pouco, toda a doação, toda a paciência, toda a compreensão solicitada pelo próximo é excessiva e aborrecida, qualquer sacrifício causa revolta ou malestar. O amor grande pratica generosidades grandes e nem se apercebe do sacrifício que faz. Como dizia Santo Agostinho: "Quando se ama, ou não se experimenta trabalho, ou o próprio trabalho é amado".

Pelo contrário, o amor pequeno transforma uma palha numa "cruz" insuportável. Então, um sacrifício que caberia "dentro de um sorriso, esboçado por amor", não cabe na vida e explode em forma de sofrimento irritado, com contínuos resmungos, queixas constantes e incessantes protestos. O mau humor é a sombra do amor pequeno, o sinal que o dá a conhecer.

Se olharmos de perto o que há por trás desse mau humor, veremos que, em noventa por cento dos casos, é simplesmente a pura e simples realidade da vida, com as suas incidências, lutas, dificuldades e esforços normais. Por outras palavras, o que há na raiz do mau humor é apenas a falta de aceitação da realidade, e da vontade de Deus no dia-a-dia.

É triste lamentar, como se fossem coisa do outro mundo, dificuldades que são normais. Não é nenhuma contrariedade inesperada o fato de que os outros tenham asperezas de caráter, de que o cumprimento do dever canse, de que alcançar metas profissionais custe muito, de que conseguir melhorar os nossos próprios defeitos ou os defeitos dos que nos cercam - especialmente os da mulher, do marido, dos filhos - seja algo lento e demorado. No entanto, é muito comum que, ao constatá-lo, nos sintamos indispostos, nos deixemos levar pelo aborrecimento, pela impaciência, pelo protesto, e percamos o bom humor. Reações de todo desproporcionadas e ridículas, pois lá onde nós imaginamos grandes "cruzes" está apenas a "vida", a vida que, com um pouco mais de amor e bom humor, ficaria pontilhada de alegrias e coroada de ações de graças.

Cristo pede-nos que tomemos com amor a cruz de cada dia (Lc 9, 23), é certo, mas - lembrando o que dizia João Paulo I - essa cruz deveria ser carregada com o "sorriso cotidiano" e não fazendo dela a "tragédia cotidiana". No entanto, muitos conseguem mudar o sorriso em tragédia. Bastam-lhes para tanto duas coisas: em primeiro lugar, amar pouco, como já víamos. Em segundo lugar, viver mergulhados num mundo de imaginações escapistas e sonhos irreais.

Muitos são os que reclamam do real - que é a vida, sempre rica em possibilidades de amar, de crescer por dentro, de fazer o bem - e passam a instalar-se, esterilmente, no mundo irreal das hipóteses: se eu tivesse essas outras condições pessoais, essa sorte, essa oportunidade profissional…; se a minha mulher fosse mais bonita, pacífica e econômica…; se o meu país tivesse uma economia mais confiável… E, assim, enquanto vivem no mundo do "tomara que", atolam-se no que São Josemaria Escrivá chamava a "mística do oxalá". Desse modo, estragam a realidade, que é a única que existe e que a cada instante nos oferece ocasiões de amar e de servir e, como conseqüência, de sermos felizes.

Quem reclama sem razão da cruz cotidiana perde a cruz de Deus e encontra a "cruz" do diabo. São cheias de sabedoria aquelas palavras da Imitação de Cristo que dizem: "Se levas com gosto a cruz, ela te levará. Se a levas a contragosto, acabas por torná-la mais pesada para ti e a ti mesmo te sobrecarregas. Se rejeitas uma cruz, sem dúvida encontrarás outra, e possivelmente mais pesada".

Penso que essas reflexões podem ajudar-nos a distinguir, na nossa vida, entre as "verdadeiras" e as "falsas" cruzes. Peçamos a Deus que não nos permita atolar nas cruzes falsas, para que possamos amar as verdadeiras, que nos elevam até Deus.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O QUE É PASTORAL VOCACIONAL

É um trabalho pastoral da Igreja que visa despertar os cristãos para a vocação humana, cristã e eclesial, discernir os sinais indicadores do chamado de Deus, cultivar os germes de vocação e acompanhar o processo de opção vocacional consciente e livre (cf. DBFP, nº 27).

Introdução. Vamos seguir um esquema de oito critérios que estruturam a pastoral vocacional, partindo do conceito de vocação, passando pelas consequências deste conceito, terminando no que entendemos por Pastoral Vocacional. Acentuamos a questão da mediação eclesial pois julgamos essencial para a estruturação da PV. Aliás, a mediação, quer seja eclesial, quer seja na base do testemunho dos agentes, é ponto fundamental para a eficácia da PV.

Ainda propomos algumas pistas para a implantação da PV numa diocese e uma breve reflexão sobre a PV e as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. Como acreditamos que a verdadeira PV desperta o cristão não só para os ministérios ordenados (epíscopo, presbítero e diácono), concluímos propondo algumas anotações sobre os ministérios na Igreja.

Na linha do conceito de vocação

Primeiro critério: "Fundamentalmente, a vocação cristã é um chamado do Pai à salvação, por meio do seguimento e da identificação com Jesus Cristo, dentro de um povo. A esta vocação o cristão deve responder com uma opção concreta na Igreja e a serviço dela, tanto do ponto de vista ministerial, quanto carismático, nos diversos estilos de vida".

Segundo critério: "A vocação como chamado/opção se identifica com a dinâmica da fé. Com efeito, a fé como diálogo supõe um processo onde a palavra salvífica de Deus, feito pessoa redentora em Cristo, através de acontecimentos históricos, que culminam na Páscoa e no Espírito de Pentecostes desperta o homem e a mulher para uma opção progressiva por Cristo para chegar ao Pai no Espírito Santo. Esta opção vai desde a conversão ( cf. Ad gentes 13 - adesão ao Senhor), passando pela vivência profunda da prática cristã e dos sacramentos (cf. Ad gentes 14 - catecumenato), até à opção apostólica cristã, expressa nos ministérios e carismas diversos a serviço da Igreja (Ad gentes 15 - vários ministérios). Assim, ainda que vocação seja todo o processo de chamado/opção - a partir da conversão até a opção por um estilo de vida- consideramos que o processo vocacional propriamente dito começa na opção apostólica e se realiza num estilo de vida concreto dentro da Igreja".

Na linha das consequências
Terceiro critério: "O cristão somente escutará este chamado através e dentro da comunidade cristã (cf. LG nº 9 - salvação através de um povo). E só chegará à opção, por um estilo de vida dentro da Igreja, se esta comunidade for abertamente apostólica e eucarística. Porém, esta comunidade deve possuir uma vivência espaço-temporal concreta, e por isso sublinhamos a estreita união que existe entre opção vocacional por estilos de vida e comunidade de fé, como grupos humanos apostólicos e concretos, que se reúnem para rezar, ouvir a palavra de Deus, celebrar a Eucaristia e assumir os compromissos decorrentes desta vivência de fé.

Quarto critério: "Mesmo suposta a influência da comunidade, a opção vocacional é um ato eminentemente pessoal e personalizante. Do ponto de vista do apelo, supõe o reconhecimento e a transcendência de Deus e uma experiência pessoal de Cristo que, apesar de se manifestar na comunidade, nela não se esgota mas a ultrapassa e que chama a um diálogo interpessoal no amor. Do ponto de vista da resposta, supõe uma maturidade tal na opção pessoal, que seja capaz de chegar a respostas cada vez mais comprometidas no amor até ‘o ficar comprometido’ e apto a se definir perante a Igreja e a sociedade, por opções - em si mesmas- definitivas".

Quinto critério: "É essencial, para a opção vocacional, a renovação das imagens da própria Igreja e das diversas vocações dentro dela. Sem estas imagens renovadas nossos jovens não encontrarão o caminho da opção. Ser uma imagem de vocação, que realiza a pessoa e a faça feliz. Ser uma imagem heróica, isto é, que lute por algo que valha a pena apostar a vida, sem esconder as dificuldades desta luta. Ser uma imagem encarnada em nossas realidades, de maneira que responda de forma positiva às necessidades de nossa sociedade ".

Sexto critério: "O ponto central da ação de toda a PV é aquele que parte da opção apostólica (inserção na comunidade, na variedade dos ministérios) até chegar à opção por um estilo de vida concreto dentro da Igreja. A vocação cristã supõe homens e mulheres, que já vivam um estilo de vida, escolhido livremente e com maturidade, homens e mulheres que estejam a caminho como convertidos e que se encontrem num processo de opção. Apesar de que este último não seja um estado de vida estável, mas um processo em vias de chegar à escolha de uma vocação particular, podemos chama-lo de ‘estado de opção’".

Na linha da Pastoral Vocacional
Sétimo critério: É um trabalho pastoral da Igreja que visa despertar os cristãos para a vocação humana, cristã e eclesial, discernir os sinais indicadores do chamado de Deus, cultivar os germes de vocação e acompanhar o processo de opção vocacional consciente e livre de tal modo que expresse seu serviço ministerial ou carismático para a Igreja, em qualquer dos estados de vida (cf. DBFP, nº 27). Esta ação pastoral a Igreja a exercerá renovando a sua própria imagem e de seus ministérios, acompanhando o vocacionado no seu processo de amadurecimento pela opção.

Oitavo critério: A Pastoral Vocacional assim entendida supõe uma Igreja:
1. Trinitária. "Consumada, pois, a obra que o Pai confiara ao Filho realizar na terra (cf. Jo 17,4), foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes a fim de santificar perenemente a Igreja para que assim os crentes pudessem aproximar-se do Pai por Cristo num mesmo Espírito (cf. Ef 2,18)" (LG 4);

2. Ministerial. " Não é apenas através dos sacramentos e dos ministérios que o Espírito Santo santifica e conduz o Povo de Deus e o orna de virtudes, mas, repartindo seus dons ‘a cada um como lhe apraz’ (1Cor 12,11), distribui entre os fiéis de qualquer classe graças especiais. Por ela os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para renovação e maior incremento da Igreja, segundo estas palavras: ‘A cada um é dada a manifestação do Espírito para utilidade comum’ (1Cor 12,7). Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja" (LG 12);
3. Igualitária. "Um é pois o Povo eleito de Deus: ‘um só Senhor, uma só fé, um só batismo’ (Ef 4,5). Comum a dignidade dos membros pela regeneração em Cristo. Comum a graça de filhos. Comum a vocação à perfeição. Uma só a salvação, uma só a esperança e indivisa caridade. Não há, pois, em Cristo e na Igreja, nenhuma desigualdade em vista de raça ou nação, condição social ou sexual (cf. Gal, 3,28; Col 3,11). Se pois na Igreja nem todos seguem o mesmo caminho, todos, no entanto, são chamados à santidade e receberam a mesma fé pela justiça de Deus (cf. 2 Ped 1,1). E ainda que alguns por vontade de Cristo sejam constituídos mestres, dispensadores dos mistérios e pastores em benefício dos demais, reina, contudo, entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo" (LG 32). Não confundir, porém, igualdade com igualitarismo. Entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial há uma diferença não de grau, mas de natureza. "Se a diferença fosse de grau, seria certamente contrária à igualdadefundamental de todos os cristãos, porque estariam no mesmo sacerdócio, porém, alguns em grau superior (‘mais’ sacerdotes) e os outros em grau inferior. Ao invés disso, sendo a diferença não de grau, mas de natureza, as relações não são de inferioridade e superioridade, mas são relações orgânicas (de funções), mais complexas".

4. Missionária. "A Igreja peregrina é por sua natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai" (AG 2). Apta a responder sempre mais às exigências novas que a sociedade se lhe apresenta (cf. AG 6).

5. Inculturada. "Reconheçam-se (os missionários) como membros do corpo social em que vivem, e tomem parte na vida cultural e social através das várias relações e ocupações da vida humana. Familiarizem-se com suas tradições nacionais e religiosas. Com alegria e respeito descubram as sementes do Verbo aí ocultas" (AG 11).
6. Sinodal. "Desde os primórdios da Igreja, os Bispos, colocados à frente de Igrejas particulares, levados pela comunhão fraterna da caridade e pelos cuidados da missão universal confiada aos Apóstolos, uniram sua energias e suas vontades na promoção do bem tanto comum quanto de cada uma das Igrejas. Por esta razão constituíram-se Sínodos ou Concílios provinciais ou enfim Concílios plenários. Neles os Bispos estabeleceram, para as várias Igrejas, um teor comum a ser observado tanto no ensino das verdades de fé quanto na organização da disciplina eclesiástica. Deseja este Santo Sínodo Ecumênico que o venerável instituto dos Sínodos e Concílios seja revigorado" (CD 36). Este espírito de Igreja Sinodal, de comunhão e participação, se expressa claramente na Pastoral de Conjunto de uma Igreja Particular. A Pastoral de Conjunto não é uma caminho optativo: é a condição indispensável da ação eclesial; e tampouco ela pode surgir só da política do Bispo, tem que se ancorar na consciência de todos os membro da Igreja, perpassar toda a estrutura eclesial. Assim, somos incentivados a criar conselhos nos mais diversos níveis para que haja efetivamente participação de todos nas decisões e se promova a comunhão de pessoas e ideais (cf. DGAE, nºs 296 a 303).

7. Conclusão. Poderíamos elencar muitas outras notas sobre a Igreja sobretudo aquelas que lhe dão uma feição mais latinoamericana:
Igreja SAMARITANA - Diakonia
Tem compaixão e partilha com os pobres, consola os aflitos, alivia os sofredores, cura os doentes.
Encontra o Ressuscitado tocando as chagas dos irmãos.
Igreja CASAÛ COMUNIDADE - Koinonia
Acolhedora: diálogo Û encontro que humaniza. Intimas relações interpessoais Û comunhão responsáveis uns pelos outros. Igreja toda ministerial
Igreja SANTUÁRIO - Liturgia
Espaço para Deus Û Arca da Aliança. Ícone da Trindade Û A melhor comunidade
Escola de Oração na vida. Eucaristia: fonte e cume da Igreja
Igreja PROFECIA - Martyria
Denúncia: Injustiça Û opressão. Anúncio : Esperança Û Reino de Deus
Exigência: conversão e ação transformadora
Igreja MISSIONÁRIA - Kerigma/Diakonia
Discípula de Jesus e Peregrina. Evangelho Inculturado.

Policêntrica -- ecumênica
Aqui estão, sem dúvida, as bases para uma eclesiologia que favorece uma Pastoral Vocacional mais aberta. Toda a reflexão pós-conciliar caminha na mesma direção. Vocação missionária (Evangelii Nuntiandi), inserida no contexto latino-americano (Medellin), marcada pela opção pelos pobres (Puebla), inculturada e que leva em conta o protagonismo laical (Santo).